terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As mãos lembram

as mãos lembram.
decorados os contornos
dos corpos
nelas permanece
(como chaga antiga
a textura da pele.

as mãos lembram.
livres hoje das conjecturas
que as petrificavam
sóbrias entre a multidão
(nunca escondidas
ninguém dá por elas.

nada mudou, no entanto.
ainda me esqueço de tirar os sapatos à chegada
e passo tempo a mais à procura de papéis.
os meus olhos dilatam-se na televisão
mas ainda não precisam de óculos.
continuo sem gato, nem saias, nem cortinados,
uso o mesmo código no multibanco
e às vezes paro à tua porta
a reescrever o teu rosto
nos mapas e nas multas da emel.
desfigurado
(como numa velha fotografia
dá-me um silêncio de voz nítida
que cheira a água e relva.

que
as mãos lembram.
mas o coração não responde.