terça-feira, 20 de julho de 2010

A cumprir-me

porque me exiges certezas
e promessas seguras
conhecendo-me em abismo,
porque me aconteces como nuvem
e te ofereces em festa florida,
porque és a repetição de um sonho
à espera da suave manhã que tarda,
porque me pedes o que me transforma
e um brilho solar a irromper
neste peito que só na noite se afirma,

não consigo cumprir-me senão de pálpebras coladas,
a domar ausências
a alinhavar máscaras
a matar rancores
a inflamar sorrisos
a reformular dádivas.

porque em mim, para além de mim,
existe apenas caos
e a maldição da memória,
só poderia acreditar nos teus sublimes olhos
e ser-te exemplar
se te demorasses no meu abraço
mais que dois momentos e um pau de giz,
e eu pudesse guardar o que lembro
debaixo da pele,
a salvo de ti.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Agarra

como és esse osso partido
sem mestre nem beleza
e és frondosa árvore de verde-luz e volúpia acesa,
como vais por esse caminho
de dores apertadas
e vais sem saber que a noite estreita as estradas,
como tens essa cegueira
com íris de punhais
e tens o tempo todo da vida para teres mais,

aqui me recolho para te ensinar a ver.
agarra a minha mão e não a soltes,
nunca a soltes
na pressa de me ter.