esse verso diário
que na tua boca
se forma às nove
trago no ouvido
(disfarçado pelo sol nos cabelos
o amor que me dás
arrumo na lancheira
e como à secretária
quando bate a uma
(com talheres de tinta e verbo
pára-me o pulso
à roda das seis
treme-me a folha
as mãos descaem
(pela imprestável memória
às oito sacudo
o vento do casaco
sento-me à mesa,
mordo o lábio
(enquanto chegas para jantar
o silêncio vem
abraça a alma
abro-me, dispo-te
passa das onze
(ressoam suspiros pelo quarto
e cresce, cresce
como menino
o nosso poema
noite adentro
(tão bem ajustado ao tempo
se lhe pões um ponto, eu ainda o publico
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Nessa funesta casa de campo
nessa funesta casa de campo
de onde nunca nasceram flores
nem sequer se abriram bocas de espanto
(se não ao fim dos ossos,
segurei a tua morte e ascendi à poesia,
de pão de centeio no bolso,
tomate, folhas de prata e três fatias de rosbife,
sem relógio.
ouvia-se a fome na cidade
(triunfante
os assobios do asfalto, as paredes remendadas
e por vezes havia luar nas janelas
a deslizar-nos para as entranhas.
e quando sob a manta me tocavas
parecia que me atavas um nó por dentro
de modo a que jamais nos separássemos.
mas
(tudo em ti era um corvo,
partias todas as noites enquanto te falava
com a cabeça inclinada, voando
de mãos paradas nas minhas
e os olhos em filmes dos Óscares,
dardejados de fantasmas.
e eu, num débil gesto de vida extraviada,
agarrava-me ao útero vazio e cobria-te
(de alma silenciosa
à espera que regressasses.
já não espero nada.
de onde nunca nasceram flores
nem sequer se abriram bocas de espanto
(se não ao fim dos ossos,
segurei a tua morte e ascendi à poesia,
de pão de centeio no bolso,
tomate, folhas de prata e três fatias de rosbife,
sem relógio.
ouvia-se a fome na cidade
(triunfante
os assobios do asfalto, as paredes remendadas
e por vezes havia luar nas janelas
a deslizar-nos para as entranhas.
e quando sob a manta me tocavas
parecia que me atavas um nó por dentro
de modo a que jamais nos separássemos.
mas
(tudo em ti era um corvo,
partias todas as noites enquanto te falava
com a cabeça inclinada, voando
de mãos paradas nas minhas
e os olhos em filmes dos Óscares,
dardejados de fantasmas.
e eu, num débil gesto de vida extraviada,
agarrava-me ao útero vazio e cobria-te
(de alma silenciosa
à espera que regressasses.
já não espero nada.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Como quando me perguntas
vens gritar-me sem razão aparente
o teu secreto desalento
em espuma,
dentes e volume
de pedra por esculpir
chegas-me pelo avesso
a fintar a chuva açucarada
que te cai liricamente
do meu peito ruminante
e não sabes que mais fazer ao desejo
que descarregas das mãos
para as gavetas
e a tábua de engomar
eu entrego-me ao jogo inútil
de esfacelar a felicidade
sem sequer te beber os olhos
ou secar os meus,
como quando me perguntas,
julgando que sei, se o amor é importante
e eu te digo,
tanto como a água,
enquanto deito os dedos
na matemática dos teus gestos
e viro a cabeça para sul.
o teu secreto desalento
em espuma,
dentes e volume
de pedra por esculpir
chegas-me pelo avesso
a fintar a chuva açucarada
que te cai liricamente
do meu peito ruminante
e não sabes que mais fazer ao desejo
que descarregas das mãos
para as gavetas
e a tábua de engomar
eu entrego-me ao jogo inútil
de esfacelar a felicidade
sem sequer te beber os olhos
ou secar os meus,
como quando me perguntas,
julgando que sei, se o amor é importante
e eu te digo,
tanto como a água,
enquanto deito os dedos
na matemática dos teus gestos
e viro a cabeça para sul.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Melhor (talvez
entrego-me ao amor sem saber o que sorver
desse sabor a estrelas (de lume essencial
que trazes nas mãos.
entendo apenas o que o teu rosto (nada literário
me diz,
consciente de que (como todos os seres
temos os dias contados
apesar do ímpeto juvenil com que matamos o tempo
e prendemos enfeites (que caem um a um,
como as fachadas,
ao coração.
organizo as cores (noite dentro
em malas de brincar
e pinto épicas batalhas (tão inúteis como as outras
nesse silêncio de mágoas antigas
que nem quando bebes gargalhadas
consegues esconder.
deixo-te (em momentâneo aturdimento
abraçares-me pela cintura,
desconfiada do que me ofereces
quando consolo
é o que o teu olhar pede (cegamente dominador
como a minha mão direita
ao escrever.
melhor (talvez
seria levantar-me à hora dos padeiros
para (num vagar doméstico
negar cada verso que longe de ti levo
da imaginação.
e entregar-me (sem poemas
ao grande mundo onde (em chaga
nos afundamos.
desse sabor a estrelas (de lume essencial
que trazes nas mãos.
entendo apenas o que o teu rosto (nada literário
me diz,
consciente de que (como todos os seres
temos os dias contados
apesar do ímpeto juvenil com que matamos o tempo
e prendemos enfeites (que caem um a um,
como as fachadas,
ao coração.
organizo as cores (noite dentro
em malas de brincar
e pinto épicas batalhas (tão inúteis como as outras
nesse silêncio de mágoas antigas
que nem quando bebes gargalhadas
consegues esconder.
deixo-te (em momentâneo aturdimento
abraçares-me pela cintura,
desconfiada do que me ofereces
quando consolo
é o que o teu olhar pede (cegamente dominador
como a minha mão direita
ao escrever.
melhor (talvez
seria levantar-me à hora dos padeiros
para (num vagar doméstico
negar cada verso que longe de ti levo
da imaginação.
e entregar-me (sem poemas
ao grande mundo onde (em chaga
nos afundamos.
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