terça-feira, 12 de julho de 2011

De feição

corre de feição este vento de amor possível
a desatar nós à memória,
a fibrilar o algodão das nuvem cinza
para que perdure,
a soprar açúcar (colado aos dentes
ao ouvido deste animal desvairado que
(repetidamente
marra de frente
(sem guia
contra os muros do tempo.

avança de feição este vento
(exactamente
para onde deve ir,
exactamente
à medida
da silhueta do meu desejo
desenhada na tua pele.


voa de feição este vento de imodesta vontade,
vai sem alarme pelas margens da ternura
a despejar canções sobre os meus dedos
e a beijar-me a nuca de brisas solares
(como essas que à noite me entregas
na almofada virada a oeste,
alinhada com a janela dos autocarros

mas falta (talvez
delicadeza ao mundo
para segui-lo,
tomá-lo nas mãos e dividi-lo
(como pão
pelos dias magros da cidade.


morre-me (pois
de feição outro vento
recortado no espelho

à imagem do que não és.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Dedicatória

pergunto-me como estará marraquexe este verão.

em madrid há portuguesinhas atrevidas
ao méxico vou de tequilla
goa arde-me nos olhos.

atavio-me para o mundo por ver, a mala o chapéu
cigarros e cinto
a fronteira só azul
o tempero de não saber
sol e vento na pele quente

e escrevo,
desde que passe por corações humanos
na viagem de tempo a ruir
dedico-te o meu passaporte.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Este é o meu encontro

este é o meu encontro contigo.

preparo-me de aromas e visto-me de música transparente,
há muito cansada de me envelhecer neste canto
a fumar sarcasmos
sem objectivo
a cavar
e a enterrar sombras
em camas de trigo.

analiso-te as unhas e o tremor
à chegada,
dois pingos de ternura depois
aterro no teu abraço
e abro a boca quase tua. digo,
o medo é um amigo falso.
e tu dizes, como sabes tenho a fé por baixo do verniz.

agora, por mais bravo
sem os teus olhos é trivial
cada gesto
meu.

pede anteontem.