terça-feira, 25 de outubro de 2011

Pelo sim pelo não

à cautela abro um pouco a porta e deixo entrar
a tua história (luz fendida em solo gasto,
todos os momentos
das tuas outras vidas.
e oiço-te. vasculho-te. aliso-te.
e digo,
tens direito a não saber como viver.
e tu dizes, faço-me à ternura
pelo sim pelo não.

arranjas, como o cabelo, o coração
antes de saíres à rua e voares
do meio-dia ao desmaio, até aos meus braços
(demora só mais cinco minutos, vale a pena
e vês-me enfim, reconhecendo
o meu tamanho de nada e pó
(no teu colo redentor.

pelo sim pelo não ao dependuro largo
no hall os segredos (que me vestiam
enquanto o sol incendeia
os teus olhos mendigos
(pedem fulgor à corrida do rio
e encontram-me ao poente.

a oriente
minaretes perfuram o céu,
crianças morrem soterradas,
mulheres em asfixia gatinham de preto.
e tu ainda te queixas,
no passeio liso,
no jardim suspenso,
no tempo limpo,
a arrancar espinhos ao amor.
dizes, já não sou a mesma rapariga que sobreviveu
ao chocolate do natal de oitenta e oito
(vale à flor da cascata.
mas ainda te derretes em calda
(fio a metro que te mede,
digo eu.

e o mar canta pleno
universal, nas nossas mãos abertas
uma na outra,
pelo sim pelo não.