domingo, 4 de fevereiro de 2018

Corre

quando do meu coração ao teu ia apenas uma palavra, o vagar das coisas miúdas demorava-se nos nossos braços, apertados nas costas, conscientes do fim, na dobra da década.

depois desaprendemos o tempo, folheando os dias esfaimados de ternura, o medo da dor a revestir a memória, a esconder a evidência de que a vida é uma queda constante, imparável.

nem sempre é igual, a velocidade do mundo, só a dos ponteiros, dizes.
e eu digo, iludes-te. enquanto durar a empreitada, recomendo-te que corras. mas corre para dentro.
tu espreguiças-te no tempo veloz dos teus encontros com o amor, a pensar que vale a pena sentir tudo o que ele te dá.
como, se há tanto do lado de fora.

eu observo, mas evito abrir a janela.
não vá a frieza do mundo gelar-me, agora que nada nos nossos braços, apertados nas costas, se demora.