sexta-feira, 27 de junho de 2008

Facto

volatilizo-me para soprar o teu nome, condenso-me para deslizar no teu corpo.
e sou a bruma. e um fio de suor.
tu abres o rosto de espanto e as mãos de ternura, és a trepadeira que abraça a minha casa e lhe come a cal às paredes e lhe rouba o sol das janelas.
e és a boca que não deixa os meus beijos partir.
aceita o silêncio, digo.
a matéria triunfa, dizes tu.
e o teu espírito cola-se ao espelho como humanamente a pele adere à carne. músculos e gordura e ossos e canais, a feliz fusão dos teus sentidos.

depois bebes um copo de água e fumas um cigarro.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

De aço

gosto de cordas como tu gostas de chocolate.
e de pessoas sensuais, eu e tu, mais as suas vozes imparáveis e olhos inquietos e pernas trémulas e mãos embrulhadas.
às vezes escutamos pianos e tambores nas nossas cabeças e pensamos nelas, em como os seus passos traçam caminhos no mundo, em como cada fugaz alegria lhes sabe a leite e cacau e as ata à vida em nós gordos, próprios de amarras navegantes, porém estéreis vezes demais.
pensamos nelas e trocamos sorrisos, eu e tu, desejando que todas elas sejam tão felizes como nós, nem que seja por um dia. mas os seus rostos franzidos de azul expõem o tédio que as tolhe, o desalento que as imobiliza, a raiva que as desvia da luz.
invejam-nos, digo.
este amor ofusca, dizes tu.
e as nossas bocas ajustam-se uma à outra, tornadas beijos palpáveis em minutos que derretem como cera de vela.
e sacudimos o corpo como se fosse roupa. e amontoamos a roupa como se pudéssemos subir por ela até às nuvens.
e enfeitamos o estendal com papel colorido.
e colorimos a pele, devorando o sol.
como se o sol nos pertencesse.

à nossa volta forma-se então uma circunferência de aço, desenhada a cordas curvas de guitarra. e lá dentro insinua-se uma língua de chocolate, que eu e tu descodificamos, sem gramática nem receituário.

em breve poderemos ensiná-la.
a quem tiver tempo para sonhar.