recosto-me e deixo a demência soprar-me poemas.
sentada vejo-a alastrar
como se intenção e som tivesse
ébria de si própria a cobrir a aridez do meu silêncio.
e percebo que há respiração nos meus versos.
vivem de cal e fumo puro
raiva a extrair o açúcar à liberdade
excessos em lágrimas, combustões que se sonham regressos,
e este fosso entre o meu corpo e o teu.
recosto-me com um copo de vinho
embrulhada em seda
olhos moles de não te ver
dedos doridos de arrumar lenços
e a faca fina a gritar-me
que nem toda a minha mágoa tem o teu nome.
um adeus rumina nos rios de palavras que troco comigo.
domingo, 24 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
Em lado nenhum
estamos em lado nenhum
agora.
eu lavo a ferida repetidas vezes no charco da memória
enquanto tu folheias revistas
e imploras solene silêncio.
já contavas com os efeitos secundários deste remédio,
eu só agora reparo que não tinha assim tantos planos
que possa não ter tempo para cumpri-los,
mas que não terei tempo
para esquecer o pássaro vertiginoso dos teus olhos.
e tento cuspir o que me arde,
e detonar o que me cura
e respirar mais uma noite.
estamos em lado nenhum
agora.
eu divirto-me a passar
e passo os dias a disparar dardos de sangue contra o vento.
tu progrides em linha recta
nas plateias
e nos hangares
nos elevadores e nos mais quotidianos gestos
mas inadvertidamente
espreitas o passado nos reflexos do espelho.
estamos em lado nenhum
agora
eu cruzo os braços, incendeio os livros, trituro as ilusões.
e só quero sair daqui.
tu rogas silêncio e dizes,
não se pode viver à míngua do enlevo de ontem.
e eu digo, ontem chegou cedo demais.
estamos em lado nenhum
agora é a minha cabeça o melhor lugar que conheço.
agora.
eu lavo a ferida repetidas vezes no charco da memória
enquanto tu folheias revistas
e imploras solene silêncio.
já contavas com os efeitos secundários deste remédio,
eu só agora reparo que não tinha assim tantos planos
que possa não ter tempo para cumpri-los,
mas que não terei tempo
para esquecer o pássaro vertiginoso dos teus olhos.
e tento cuspir o que me arde,
e detonar o que me cura
e respirar mais uma noite.
estamos em lado nenhum
agora.
eu divirto-me a passar
e passo os dias a disparar dardos de sangue contra o vento.
tu progrides em linha recta
nas plateias
e nos hangares
nos elevadores e nos mais quotidianos gestos
mas inadvertidamente
espreitas o passado nos reflexos do espelho.
estamos em lado nenhum
agora
eu cruzo os braços, incendeio os livros, trituro as ilusões.
e só quero sair daqui.
tu rogas silêncio e dizes,
não se pode viver à míngua do enlevo de ontem.
e eu digo, ontem chegou cedo demais.
estamos em lado nenhum
agora é a minha cabeça o melhor lugar que conheço.
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