terça-feira, 25 de março de 2025

Luxo

a tua ausência renova-se.

linhas de luz desequilibram

este desdizer dos ecos do futuro 

e eu duplico-me solitária

arrepiada no espelho 

à mercê do teu sopro desfeito.


por dentro das dúvidas, 

das perguntas enoveladas na memória, 

crepitam ainda palavras aos pares

como braços 

viventes no vazio

e apesar do vazio.


em decomposição

como nós

dobram-se a si mesmas, 

ecos flamejantes do que fomos 

mas tão pouco dizem  

como quando 

muito antes de ti

eu brincava com elas 

só porque o branco da folha me inquietava.


acostumada à morte,

noutra dimensão 

ainda me perco nesse rasto de bocas ougadas

que guardo no espaço do silêncio.


e à noite  

deixo a luz acesa para te esquecer

no limiar do sono em que o meu corpo se esfuma


abro-me à queda, una e refletida

no arco dos teus ombros

sobre o papel.


é um luxo. 

sempre apreciei o movimento que me deita.