sexta-feira, 19 de março de 2010

Vês?

não,
não quero cortar laços,
antes desatar nós.

e preciso da tua ajuda para morrer.
de morte limpa,
olhos lavados,
e nenhum mistério para além da pele.

vês ali aqueles sonhos dependurados,
sangue velho erguido à cabeça,
como coroa ou privilégio,
de repente
descendo aos punhos cerrados?
vês ali aqueles sonhos espalhados,
no chão amontoados
como coisa morta
ou roupa antes da fusão?
aqueles sonhos que em dias claros brilhavam
e definham agora sem onde crescer?

foram meus.
são de mar ainda.
e murmuram:
nenhuma traição justifica não trocarmos lágrimas.
nenhum erro sobrevive ao amor.

eu roo as unhas e respondo
que não há ponte
que sem manutenção
permaneça.
nem mão que acaricie sem desejo,
ou beijo que fale no silêncio,
ou ternura que se imponha à mágoa.
e
embrulho-me num tormento etéreo,
breve como a lua cheia.
e prossigo.

não quero cortar laços,
antes desatar nós.

quando me ajudas a morrer?

1 comentário:

Anónimo disse...

sim, quando me ajudas a morrer?