trocas de chapéu mais uma vez
e sais para a noite à espera do fim.
imaginas gravatas nos decotes,
andas sem tréguas pelas pedras irregulares,
adivinhas derramamentos de sal nas caras bêbadas.
e a cada curva inventas segredos líquidos,
sem medo de deixares outra vida a meio.
encontras-me em tinta fresca na ponte das duras penas.
não há esquina nenhuma por perto,
só um chilrear sem asas a bater no caminho,
o rio que sei ainda branco a guardar o silêncio,
a medida certa de luz amarela.
falas-me da cor e do espírito guerreiro,
das imagens que sentes e dos gritos que dás.
queres saber o que poderás ter e te ensine o rumo,
a lua parada de todo
a prometer-te pouco e vago descanso,
os joelhos trémulos, os olhos a boca as mãos secas,
uma dor inexplicável no pé direito.
eu elevo-me ao muro da ponte num fio de palavras
e não danço.
falo-te do amor que pede,
mas nada exige. das coisas transitórias imateriais,
do sonho que aqui morreu há onze anos e um dia,
do desapego.
depois acendo-te um cigarro.
fazes-me chorar, dizes.
e eu digo, preferia fazer-te.
então recolho-me ao correr da página
e tu reapareces em poema.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Há coisas que não têm palavras
esquecida das duzentas dores que carrego no peito
sou capaz de voar no teu breve abraço,
anterior à rotina da manhã.
e o dia começa.
na cama ainda quente ficou o desalinho,
nas mãos a nudez, gemidos misturados a pender das cortinas.
e junto à nuca suada as velhas decisões que te tenho lido ao acaso,
como notícias de jornal.
sorrio por seis metros, entre o quarto e a banheira,
e conto-te os sinais sem que notes.
na água do duche deslocam-se de vida,
minúsculas ilusões em carne escura a impor-se aos meus olhos,
mais que o umbigo ou a linha das ancas ou o declive dos ombros,
e procuro cuidar do que trazes dentro
enquanto me ensaboas.
e o dia espera.
dos copos por lavar à cabeceira
espreitam lágrimas do vinho que ontem
nos encheu de precária alegria,
oxidado de vez.
e tu viras-lhes as costas para pintares as unhas.
e o dia avança.
redefines as sobrancelhas, soltas-te no espelho,
ignoras o meu desejo.
há coisas que não têm palavras, dizes.
eu visto-me de bálsamos de ternura disfarçada
e afasto as paredes ao encontro da tua pele.
em vão.
todo o inefável é ausência, digo.
tu vês as horas em vez dos meus lábios cosidos ao teu nome
e apertas os sapatos.
arrumas o tabaco, as chaves, os segredos
e o dia leva-te.
eu baixo a cabeça de sonhos e já ao volante penso,
o amor é de pedra. mas eu, não.
sou capaz de voar no teu breve abraço,
anterior à rotina da manhã.
e o dia começa.
na cama ainda quente ficou o desalinho,
nas mãos a nudez, gemidos misturados a pender das cortinas.
e junto à nuca suada as velhas decisões que te tenho lido ao acaso,
como notícias de jornal.
sorrio por seis metros, entre o quarto e a banheira,
e conto-te os sinais sem que notes.
na água do duche deslocam-se de vida,
minúsculas ilusões em carne escura a impor-se aos meus olhos,
mais que o umbigo ou a linha das ancas ou o declive dos ombros,
e procuro cuidar do que trazes dentro
enquanto me ensaboas.
e o dia espera.
dos copos por lavar à cabeceira
espreitam lágrimas do vinho que ontem
nos encheu de precária alegria,
oxidado de vez.
e tu viras-lhes as costas para pintares as unhas.
e o dia avança.
redefines as sobrancelhas, soltas-te no espelho,
ignoras o meu desejo.
há coisas que não têm palavras, dizes.
eu visto-me de bálsamos de ternura disfarçada
e afasto as paredes ao encontro da tua pele.
em vão.
todo o inefável é ausência, digo.
tu vês as horas em vez dos meus lábios cosidos ao teu nome
e apertas os sapatos.
arrumas o tabaco, as chaves, os segredos
e o dia leva-te.
eu baixo a cabeça de sonhos e já ao volante penso,
o amor é de pedra. mas eu, não.
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