terça-feira, 13 de setembro de 2011

O rio que sei

trocas de chapéu mais uma vez
e sais para a noite à espera do fim.

imaginas gravatas nos decotes,
andas sem tréguas pelas pedras irregulares,
adivinhas derramamentos de sal nas caras bêbadas.
e a cada curva inventas segredos líquidos,
sem medo de deixares outra vida a meio.

encontras-me em tinta fresca na ponte das duras penas.
não há esquina nenhuma por perto,
só um chilrear sem asas a bater no caminho,
o rio que sei ainda branco a guardar o silêncio,
a medida certa de luz amarela.
falas-me da cor e do espírito guerreiro,
das imagens que sentes e dos gritos que dás.
queres saber o que poderás ter e te ensine o rumo,
a lua parada de todo
a prometer-te pouco e vago descanso,
os joelhos trémulos, os olhos a boca as mãos secas,
uma dor inexplicável no pé direito.

eu elevo-me ao muro da ponte num fio de palavras
e não danço.
falo-te do amor que pede,
mas nada exige. das coisas transitórias imateriais,
do sonho que aqui morreu há onze anos e um dia,
do desapego.
depois acendo-te um cigarro.

fazes-me chorar, dizes.
e eu digo, preferia fazer-te.
então recolho-me ao correr da página
e tu reapareces em poema.

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