acordei com o teu nome na boca
dobrei-o ao meio
encaixei-o (silencioso
entre dois livros
e desliguei o rumor de escrita
que ameaçava tornar-se carne (ruinosa
nas minhas mãos
e desconheci-me
nesta tranquilidade satisfeita
entre monges e predadores
a tricotar gorros de desejo (ruidoso
na minha cabeça
como sabes
procurei por muito tempo
o sentido do nosso tempo
sem calcular o tempo do teu ódio (sagaz
nem a extensão da tua ausência
mas nunca esqueci as cores
em que preferes vestir-te
a tua colecção de botas
a altura das tuas pernas
o reflexo da minha pele no teu olhar (impaciente
o tamanho do teu sorriso a dançar
não sei para quê
como também sabes
não posso apagar os segredos que me consolam
ainda que me separe do coração (mudo
e demais de ti
terça-feira, 6 de agosto de 2013
terça-feira, 2 de julho de 2013
Enquanto não me vês igual
pensas em mim
como uma estrela que grita
um grão solitário entre a areia
à procura (contra a própria natureza
de uma cor que o faça único
porque sabes de mim
pela dramaturgia
que te imponho
estendida ao sol (às primeiras horas do dia
tão limpa e ainda toda por usar
tranquila como as camisas lavadas
dos rapazes caídos do céu
e escrita ao ponto de te iludir
de vez em quando
olhas para mim (espelhada na noite
a soletrar
em paz a paixão desamparada
e supões que o mar jamais seca ou a lua se apaga
enquanto não me vês
igual aos outros
como uma estrela que grita
um grão solitário entre a areia
à procura (contra a própria natureza
de uma cor que o faça único
porque sabes de mim
pela dramaturgia
que te imponho
estendida ao sol (às primeiras horas do dia
tão limpa e ainda toda por usar
tranquila como as camisas lavadas
dos rapazes caídos do céu
e escrita ao ponto de te iludir
de vez em quando
olhas para mim (espelhada na noite
a soletrar
em paz a paixão desamparada
e supões que o mar jamais seca ou a lua se apaga
enquanto não me vês
igual aos outros
terça-feira, 25 de junho de 2013
Mais uma vez
num silêncio amoroso
olho as ondas de pés
mergulhados na areia molhada
e conservo os teus olhos no meu aquário interior.
ouço o mundo dizer
era aqui que devia ter aninhado, o teu passarinho,
mas ignoro-o tal como às redes
a rebentar de palavras de que já não preciso.
e namoro as coisas do verão:
o sol a estalar sem dizer nada,
a água impossível de contar,
o peixe à espera das estrelas,
enquanto o mar aberto te fecha
os olhos
mais uma vez.
olho as ondas de pés
mergulhados na areia molhada
e conservo os teus olhos no meu aquário interior.
ouço o mundo dizer
era aqui que devia ter aninhado, o teu passarinho,
mas ignoro-o tal como às redes
a rebentar de palavras de que já não preciso.
e namoro as coisas do verão:
o sol a estalar sem dizer nada,
a água impossível de contar,
o peixe à espera das estrelas,
enquanto o mar aberto te fecha
os olhos
mais uma vez.
terça-feira, 21 de maio de 2013
Sem legendas
preciso de encontrar a imperfeição certa
para te dizer o que só a música pode
(sem legendas
até lá brinco às escondidas
com outras artes, esse engodo para predadores
(de beleza
em perfeito silêncio
para te dizer o que só a música pode
(sem legendas
até lá brinco às escondidas
com outras artes, esse engodo para predadores
(de beleza
em perfeito silêncio
terça-feira, 9 de abril de 2013
Reclusão
de lagartos amarrados uns aos outros ao pescoço
e uma ideia remota de sol
(incapaz de te secar as poças de dentro
espremes insónias para cima do piano
e acolhes a criança encolhida há anos no armário
nos teus braços
bem dobrados
lá fora
recuperas. e quase consegues ver.
bebes da taça de granito
(a dos pássaros que sobrevoam a primavera
e sem receio voltas-te para o frio
repartindo as frutas pelo arvoredo japonês.
mas não avanças.
de volta à casa
vasculhas na gaveta
(impoluta como um cemitério de aldeia
o vazio do tempo perdido
onde lês que os olhares nunca se perdem
nem sequer se esgotam no acto de olhar,
numa carta esmaecida que um dia
(muito antes de teres escolhido a reclusão
te cobriu de beijos.
em êxtase cais
de rosto ainda virado para a noite
e o mais novo testamento
(esculpido pelas traças
inscreve-se no teu peito.
a porta do armário fecha-se,
acidental.
o piano desata a rir,
os lagartos despertam.
mas nem pestanejas.
longe de mim e do mundo
deixas fugir a criança.
e enredas os fios
da tua própria mortalha.
e uma ideia remota de sol
(incapaz de te secar as poças de dentro
espremes insónias para cima do piano
e acolhes a criança encolhida há anos no armário
nos teus braços
bem dobrados
lá fora
recuperas. e quase consegues ver.
bebes da taça de granito
(a dos pássaros que sobrevoam a primavera
e sem receio voltas-te para o frio
repartindo as frutas pelo arvoredo japonês.
mas não avanças.
de volta à casa
vasculhas na gaveta
(impoluta como um cemitério de aldeia
o vazio do tempo perdido
onde lês que os olhares nunca se perdem
nem sequer se esgotam no acto de olhar,
numa carta esmaecida que um dia
(muito antes de teres escolhido a reclusão
te cobriu de beijos.
em êxtase cais
de rosto ainda virado para a noite
e o mais novo testamento
(esculpido pelas traças
inscreve-se no teu peito.
a porta do armário fecha-se,
acidental.
o piano desata a rir,
os lagartos despertam.
mas nem pestanejas.
longe de mim e do mundo
deixas fugir a criança.
e enredas os fios
da tua própria mortalha.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Para voltar à nuvem
a chuva inunda a natureza
e eu repetidamente
estendo pontes entre a minha boca e a tua
enxuta como a raiz dos cabelos
na semântica da tarde
sonolenta escondo na terra
tudo o que merece ser poema
e lavo a memória neste inverno póstumo
simplificado pelo amor feliz
para voltar à nuvem que desagua nas tuas mãos
e eu repetidamente
estendo pontes entre a minha boca e a tua
enxuta como a raiz dos cabelos
na semântica da tarde
sonolenta escondo na terra
tudo o que merece ser poema
e lavo a memória neste inverno póstumo
simplificado pelo amor feliz
para voltar à nuvem que desagua nas tuas mãos
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
As mãos lembram
as mãos lembram.
decorados os contornos
dos corpos
nelas permanece
(como chaga antiga
a textura da pele.
as mãos lembram.
livres hoje das conjecturas
que as petrificavam
sóbrias entre a multidão
(nunca escondidas
ninguém dá por elas.
nada mudou, no entanto.
ainda me esqueço de tirar os sapatos à chegada
e passo tempo a mais à procura de papéis.
os meus olhos dilatam-se na televisão
mas ainda não precisam de óculos.
continuo sem gato, nem saias, nem cortinados,
uso o mesmo código no multibanco
e às vezes paro à tua porta
a reescrever o teu rosto
nos mapas e nas multas da emel.
desfigurado
(como numa velha fotografia
dá-me um silêncio de voz nítida
que cheira a água e relva.
que
as mãos lembram.
mas o coração não responde.
decorados os contornos
dos corpos
nelas permanece
(como chaga antiga
a textura da pele.
as mãos lembram.
livres hoje das conjecturas
que as petrificavam
sóbrias entre a multidão
(nunca escondidas
ninguém dá por elas.
nada mudou, no entanto.
ainda me esqueço de tirar os sapatos à chegada
e passo tempo a mais à procura de papéis.
os meus olhos dilatam-se na televisão
mas ainda não precisam de óculos.
continuo sem gato, nem saias, nem cortinados,
uso o mesmo código no multibanco
e às vezes paro à tua porta
a reescrever o teu rosto
nos mapas e nas multas da emel.
desfigurado
(como numa velha fotografia
dá-me um silêncio de voz nítida
que cheira a água e relva.
que
as mãos lembram.
mas o coração não responde.
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