sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O teu lugar

o que fiz enquanto o meu coração te aguardava
foi fugir ao passado,
passar-lhe rasteiras e esquivar-me aos seus esgares,
para que não soubesse como encontrar-me, e onde.

deixei-me ficar muito tempo,
flutuando dia a dia num mar de quotidiana indiferença,
leda de cegueira, a salvo do amor, teimosa,
num perpétuo presente com falta de sal.

até que me estalou nas veias a saudade calada
e, com remos de esperança, venci as ondas da memória,
galguei as águas antigas,
os oceanos agitados de lembranças,
ainda a medo.

o passado trouxe-te então de volta,
em vagas mansas, intemporais, gritando.
e como um náufrago recém-chegado à praia,
beijando a areia molhada dos meus sonhos,
tomaste o teu lugar
ao meu lado
e fizeste-nos futuro.

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