terça-feira, 29 de julho de 2025

Reinado breve

já não acreditava em lugares proibidos.

tinha tirado o avental, 

despido a frieza, 

e parado de andar pelo mundo 

a morder o lábio de inocência fingida. 


estava a viver um grande amor

gracioso, puro e justo

pela primeira vez

e já não era nova

mas ainda pensava que as dores

do coração a fechar-se

eram só imaginação.


avancei sem temor

e descuidadamente

pelo caminho estreito

onde éramos corpos a um só ritmo, 

almas em rimas perfeitas,

sentidos únicos rumo ao céu.

(porque o medo da perda não fala

quando se tem beijos garantidos a cada dia 

e tantas noites de carne roubada à fome.


mas certo é que o incerto desatou a gritar.

rasgou-me a língua, 

assombrou-me o balanço.


e desse tempo 

em que sonhar era permitido e o futuro possível

restou só o vestígio de um reinado breve

feito de verdade 

forrada de ilusões.


o grande amor morreu depressa afinal

mas ainda estou aqui.


e sigo sem acreditar em lugares proibidos.

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