quarta-feira, 16 de abril de 2008

Avanço

por ti correm os rios, em ti crescem as matas, para ti cantam os pássaros. toda tu és natureza em voluptuosa vibração, o veludo de pétalas das flores, a seda nevrálgica das folhas, as escamas prateadas dos peixes, a frescura marítima da tarde, o brilho solar que incandesce as manhãs, as estrelas penduradas no céu nocturno, os flutuantes frutos nas copas das árvores.
e enches de graça o meu mundo. dás-me a razão do riso e o lenço de apagar lágrimas. ofereces-me colheres de chocolate e o sal que me tempera cada momento. amplias-me as cores e as formas da alegria e mostras-me os rebuçados que um dia guardaste sob a pele, tal como a terra guarda as raízes sob a sua crosta e o mar guarda segredos nas suas canções de água, transparentes e inefáveis e líquidas e puramente instrumentais.
contigo avanço como se soubesse para onde me dirijo.
não sigo correntes, declino amarras, nego marés. e vou decidida, de leme em punho e punhal à cintura por precaução, como se conseguisse vislumbrar a meta à minha frente, como se pudesse antever o destino de linhas curvas, como as guitarras e as mulheres e os barcos, que há-de ser o meu futuro.
mas em verdade te digo que o desconheço.
como adivinhá-lo se nenhum horizonte é permanente? como sabê-lo se tudo o que vive também morre? como antecipá-lo se nada se queda ou cala na irremediável progressão das horas? como imaginá-lo, enfim, se a realidade está colada ao tempo que passa e fora do tempo não passa de sonho?
mas avanço convictamente.
contigo e sem mapa, contigo e atenta. abraçada ao teu corpo, volúvel como todo o ser, mutável como o universo.
mas mais meu.

1 comentário:

Placi disse...

Essa MÃE que nos faz (criaturas suas) diferentes e na essência iguais; na vida e na morte. Que bom é fazermos uso dos sentidos. E sabermos mostrá-lo!
Abraço