terça-feira, 15 de abril de 2008

Certeza

há verdura neste caminho.
por mais que o negues, por mais que vejas o asfalto avançar sob a curva dos teus pés e a cinza erguer-se no ar que te envolve, posso assegurar-te que este chão continua fértil.
olha a cascata, como sempre majestosa, na sua cadência de montanha. olha o rio, para sempre navegável, no sossego da sua própria corrente. olha a árvore, imponente como nunca, no seu imparável progresso rumo ao céu. olha a folhagem, cada vez mais luxuriante, nas margens de tudo o que rola, como ainda ontem rolaram os meus olhos sobre o teu corpo, até se quedarem embriagados no diâmetro do teu pulso.
olha. e em lúcida consciência diz-me o que vês para além desse negrume que te abraça. espreita através da bruma e enfrenta os fantasmas, rasga a escuridão e esmurra o medo.
do outro lado da noite estarei eu, à espera da tua história. fecunda como o caminho, estóica no fim de todos os trilhos que te parecem terminar no vazio.
poderei finalmente escutar-te e fundir a vida que te respira pelos poros com a verdura perene do mundo. num abraço solarengo, com dentes de sorrir e mãos de colar.

a aridez reside apenas no teu coração. quase consigo ouvi-lo, enfermo na febre de sonhar-se em pleno e irrigado de luz.
sei que ainda há esperança para ele.
não o deixes morrer.

1 comentário:

Valsa Lenta disse...

"Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e muitos intervalos de desalento." [ Camilo Castelo Branco ]

Felicidades