sexta-feira, 30 de maio de 2008

Titânia

as noites perdidas no bosque, a beber e a brindar e a reluzir e a brincar às escondidas com oberon e os seus acólitos, colaram-se às tuas asas, descolorindo-as com o perfume orvalhado das horas escuras. e em mim depositaste o vaporoso tecido matizado que noutro tempo usaste para voar.
assim passou a ser-te mais fácil encontrar-me e para mim impossível adivinhar-te, apesar do colar de estrelas que desde sempre te adornou o pescoço e dos vestígios de suspiros que há muito se embrulharam nos teus cabelos.
estranhei.
nos meus sonhos ainda tocavas harpa com hábeis dedos brancos e inundavas de luz o caos do arvoredo. ainda tremias de lascívia ao crepúsculo e reinventavas os teus feitiços uma vez ao dia para me garantires uma surpresa por manhã.
mas na verdade oberon tinha já saqueado a tua beleza celeste e guardado para si os teus poderes. aprendeu a ler-te e seduziu-te, ordenando os teus ardis como planetas em eterna órbita em torno de magias já gastas.
só assim poderia ter-te.
mas tu, rainha das fadas e no cosmos decifrado pelos mortais a mais brilhante lua de urano, eras minha demais para permaneceres acesa nos braços dele.
e um dia vieste ao meu encontro, sem que eu já te esperasse.
lenta e discretamente, sem que eu pudesse sentir-te aproximar.
e disseste: dou-te as minhas cores.
serei o teu satélite, disse eu.
e fiquei a rodopiar na tua pele de puro sol.

1 comentário:

Anónimo disse...

......Parabéns por tudo o que escreves por aqui*

M.Sintonia Ida volta de sousa