terça-feira, 23 de novembro de 2010

Saudade (bem educada

o que terão os teus olhos
para me contar
quando por eles tornar
a passar os meus, aquáticos
?
o que terão as tuas mãos
para me oferecer
quando de novo tocarem
nas minhas, mordidas
?
o que serás tu (nesta perpétua metamorfose
mais adiante na vida,
nessa hora em que
o meu espelho já não sejas,
o meu rosto já não saibas,
o meu sentir já não adivinhes
?
vincaste o teu norte no meu peito
ao partires.
no meu sangue a tua bravura,
o vazio nos meus braços,
e sabor nenhum na boca
além do interdito, nenhum sabor na língua
além da derrota
.
deixaste as lágrimas acesas
ao partires. e o candeeiro
estragado. e a cama livre e a imensa
nudez de areia em queda
nas paredes. e
arrumaste
os meus sonhos na estreita cave das cores esbatidas
onde
só o riso das crianças (que não soubeste abraçar
volteia na minha desamparada dança
de suspiros virados ao infinito
.
nada digo que valha o teu regresso.
a saudade (bem educada
acomoda-se ao futuro.
já não grita, apenas balança. e cabe agora inteira
num único verso. que
à derradeira hora escreverei.

1 comentário:

Anónimo disse...

escreves mesmo bem.