quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Serra

já a noite engoliu os rochedos

na varanda teimam
as memórias a tremeluzir nas velas,
ainda te espera um copo de vinho
uma ladainha fraterna
um palácio de beijos.
e sentas-te num degrau de pedra
para rezar
missas inteiras com aroma a love story,
as horas a passar-te confusas pelo sangue
as mãos nervosas por distracção,
a música em vez da língua
o sonho em estado de pele.
e os uivos em eco.
eu chego-me a ti
com as minhas elaboradas concepções do mundo
o casaco de lã, os cigarros
um tremor nas pernas com cadência de tango
dois suspiros para tentares agarrar com os olhos
e um presente de instantâneo amor
que desembrulhas sem sorrir.
dizes inverosímil,
que a queda não te aconteça.
e eu digo,
nunca antes de me seres essencial.

pisamos atabalhoadamente
de mãos dadas, à tua vontade
os juncos que deveriam estar no rio,
chão nosso por um instante,
e só o teu desejo fala ao meu consolo.
depois
as árvores calam-nos
quando nos encostamos
a ternura abre-nos um sulco na carne
e mistura-nos como ar.
eu digo impassível,
há luar nos teus braços.
e tu dizes,
todo o abraço tem uma gota de azul.
então afastas-me
cambaleando desligas as estrelas
sobes devagar os degraus de pedra
e puxas-me para casa.

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