terça-feira, 22 de novembro de 2011

Entre estas paredes

o amor era agora,
quando dávamos as mãos à minha incontinência romântica
e atravessávamos sete colinas e um sonho
no teu silencioso olhar.
o amor era agora,
quando não largávamos a cama enquanto há sol e há chuva,
dois vulcões de carne sem ponderação nenhuma
e as horas a esvair-se nos lençóis.

saíamos de braço dado,
como as marroquinas sem malícia
e os casacos até aos dentes fechados como cartas.
havia festa no cais do sodré, os sorrisos perdendo-se pelas esquinas
e resvalando em desperdício pelas sarjetas.

a música já esteve pior, dizes.
e eu digo,
só não danço sem ti.
até voltarmos para casa.

o amor seria agora,
enquanto a massa dos crepes escorrega na sertã
e nós em turva lucidez a misturar o gershwin na canela.
o amor seria agora,
com a minha boca molhada de visita à tua pele.

o amor seria agora, entre estas paredes.
e fácil. mas a cidade não vê.

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