terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Enquanto a massa

ponho-te ao peito, meu amor sem palavras de cortar,
e em sossego levo-te para casa
(de poema murmurado na rebentação das ondas
enquanto o teu mais belo par de olhos
trespassa de luz
as noites solitárias da minha memória.

as pedras brilham como luas cheias
à medida que sobre elas avançamos
(remorsos nenhuns, pés completos
os quatro
e as mãos quentes como conchas fechadas,
neste outono sem rasuras,
onde não reconheces o desfolhamento
que a terra te mostrou à entrada da infância.

não sei se há bibliotecas no mar,
dizes, ou igrejas sem enigmas nas nuvens.
e dás o braço ao meu coração
(nove meses sobranceiro aos filhos que criei
enquanto a massa ferve e me beijas.

eu
ainda antes do jantar
assisto um supremo instante
ao nosso milagre intacto.
e ponho-te ao peito, meu amor sem lágrimas de corroer,
pronta para negar o passado mais uma vez.

não têm rosto os pássaros que partem, digo
(nem os de forma humana,
na celeste brisa oceânica desta cidade
onde nos tornamos de um sangue só.

tu
vertes um suspiro para dentro de mim e
(sem preces
serves a massa.

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