sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pianos

visito a última praia em que nos tocámos
(e toca olafur no rádio do carro

saio para caminhar e molho os pés na nossa história,
então ainda sem desfecho,
ajustando-se melhor ao incómodo de um quarto bafiento
que ao imprevisto óptico que dele nos tirou.

abro a porta desenhada na minha memória de nós,
atravessada de lumes e silêncios agarrados à pele
(e o rádio cala-se, à minha espera
depois reparo que cresceram árvores nas dunas,
talvez para dar sombra ao teu nome,
que ao sol me seca o coração,
e deixo-me ficar até sentir na boca
a água atlântica
que a tua boca deixava na minha,
até sentir nos braços o tempo escasso
em que trocávamos magias
com as mãos enlaçadas
como poemas de carne e amor e sal.

vejo a luz estilhaçar-se nas ondas
(e todos os pianos anoitecem no rádio do carro

enquanto o horizonte escurece,
imune à fogueira que acendo
nas trevas,
neste areal luminoso como janelas
(agora sem gonzales sequer
despeço-me,
de novo, e já sem mágoa,
de ti.

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