terça-feira, 2 de junho de 2020

Cinderela

não foi num baile real que nos encontrámos,
mas quase.
sem tafetás nem laçarotes,
sem máscaras, nem sequer as de agora, sanitárias,
sem brilhos nem maquilhagem ou tiaras nos cabelos
e no entanto dançámos.

um passo, depois outro,
três voltas à pista, ou mais
palavras gritadas aos ouvidos, gelo a derreter nos copos
e os sorrisos a insinuar beijos,
até ao toque na pele que dali para fora nos levou,
em suspiros ansiosos e curiosa incerteza.

pouco depois,
por magia de fada madrinha
ou destino acabado de nascer,
inventámos a alegria de caminhar lado a lado
de mãos entrelaçadas
e vento no rosto

mas tínhamos os olhos voltados para dentro
e não vimos o mesmo no horizonte
portanto ao soar de uma meia noite escura de inverno
fugiste.

deixaste para trás o coração, mas não corri atrás de ti

faltava-me caber nos teus sapatos.

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