e pássaros nos olhos para não me veres voar.
dessa cegueira à seguinte era apenas uma estação.
tu sabias
e mesmo assim deixaste-a passar.
eu tinha as asas presas à nossa casa de sonhos
e amava-te nela como se fosse real,
com os sentidos embotados
pelas tuas certezas e as minhas contradições.
estarei sempre aqui e lá fora, dizia,
enquanto podava as orquídeas
e enchia o copo mais uma vez,
ébria já, fechada em mim, surda ao teu desejo.
mas não mentia.
outra estação passou
e eis-me no mesmo lugar
a olhar para o teu pedregoso silêncio.
sei como ele é certo e justo e merecido
e por isso abraço-o
como os oceanos aos rios
as mães aos bebés
a terra às raízes.
já não há espaço nas janelas
nem pássaros que fiquem parados
à espera
até que eu me decida a habitar-te.
mas ainda há tempo para voltares a ver.
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