por vezes ainda saio de casa,
para caminhar,
esticar as pernas,
arejar os ossos,
tonificar os músculos.
dizem-me que é um remédio para esta tristeza funda,
tal como praticar o convívio,
rir, misturar-me nas coisas,
desafiar o intelecto.
mas os cheiros do mundo agoniam-me
e o ruído constante impele-me a recolher de novo
ao idílico planeta
do pensamento doméstico.
concentro-me nele e caio
sem amparo
no teu abraço gelado como a morte.
encaracolando-me,
arfante, culpada,
no espaço exíguo entre o meu corpo encolhido
e o teu colo hostil,
dou lastro à memória dos nossos instantes felizes,
na realidade para sempre perdidos
no martírio da saudade.
e aqui me deixo ficar,
imóvel, só, vazia,
até amanhã, depois de amanhã, depois da vida,
como se soubesse quem sou, ou fui, ou serei,
e que há futuro em mim
depois do amor,
depois de nós,
depois de ti.
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