chamavas às frutas
presentes de deus
e às flores
ilhas de luz
no tom solene de quem desvenda
os grandes mistérios do universo
e desenhavas monstros
com pernas de inseto e rostos humanos,
idênticos aos dos teus pais.
presentes de deus
e às flores
ilhas de luz
no tom solene de quem desvenda
os grandes mistérios do universo
e desenhavas monstros
com pernas de inseto e rostos humanos,
idênticos aos dos teus pais.
eu escrevia o livro fundamental
movida a fumo, vinho e calafrios,
com novas rugas na boca,
que te escondi,
enquanto me extinguia.
escrever é uma forma de existir, dizia então.
como não escrever, dizias tu,
e deitavas-te, alheia a tudo.
como não escrever, dizias tu,
e deitavas-te, alheia a tudo.
depois levantou-se a febre.
tu perdeste o traço e eu o verbo,
caminhaste para longe
e eu mudei de cama
para me esquecer que morri.
caminhaste para longe
e eu mudei de cama
para me esquecer que morri.
hoje grito o teu nome
para dentro da fronha da almofada
e coso-a com linhas mudas.
e coso-a com linhas mudas.
aos meus sonhos, pelo menos,
não voltarás a escapar.
não voltarás a escapar.
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