abri a porta e ela entrou de rompante em mim desprevenida como nunca.
e aquele lugar arejado onde eu morava
ficou inundado de amarguras dela,
esperanças dela,
águas dela,
medos dela,
sons indeléveis.
encolheu tanto,
fechado ao mundo, bafiento
que as paredes me encheram de pontapés
e o tecto baixou e me apertou
como os braços de um agressor furtivo,
de que instintivamente qualquer mulher,
a sós numa rua escura,
numa floresta noturna,
numa cidade deserta,
não hesitaria em fugir.
ainda tenho o chão molhado para rastejar, dormir, fazer flexões.
já não serve para espalhar livros,
mas não importa:
apodreceram há muito, incapazes de flutuar.
as lágrimas não perdoam.
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