primeiro foi a pele.
teria havido indícios.
na conversa fluida,
um escritor citado, uma memória de escola, um par de piadas, os risos.
e na esquina da rua,
um vagar curioso, uma troca de nomes, um par de passas, os charros.
até na pista de dança,
um movimento aleatório, um menear de ombros, um passo repetido, as voltas.
mas foi primeiro a pele
a ponte para o reconhecimento.
abaixo, um rio corria.
águas profundas de orvalhos antigos
à mercê das correntes do tempo.
acima, traves de névoa bolorenta.
vapores de insanidade cansada
a pôr termo aos tremores do corpo.
e adiante,
onde mais dói
um amor sem salvação
a desaguar neste velório de anos.
quando desabarem os pilares
e ficarem só ossos
sem pele, sem carne,
deixaremos de sentir?
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