segunda-feira, 25 de junho de 2007

De gelo

o sol volta a iluminar os teus dentes embora o inverno do meu mundo recolha as cores da água na sua hedionda arca de frio.
a palpitação retorna ao teu abraço enquanto os ramos das minhas árvores se entrelaçam em equilíbrios impossíveis.
o tango regressa aos teus olhos apesar do espesso nevoeiro que desce sobre os telhados descompassados da minha cidade.
levaram-te aos lábios uma taça de neve, que se abriu em sinfonias de aromas, num acto único de magia com sabor vermelho roubado às silvas.
ataram-te um arranjo de violetas felizes à varanda e deixaste entrar a alegria em casa, misturada com aquele agradável rumor da respiração dos amantes depois do amor.
porque desejarias tu acolher a minha pele experimental e olhar para os meus bizarros medos, projectados nas dunas em montagem psicadélica? como poderias tu receber a minha amarga verdade e permitir a nossa sublime catástrofe se só a explosão das galáxias do desejo nas tuas mãos te faz sorrir?
escondo as tuas mentiras no quintal, fico a ouvir as madeixas do teu cabelo a tombar sobre o pavimento gelado e os teus caracóis mesclados a patinar até se deslaçarem numa morte eterna.
então recordo os teus gemidos indiferentes a avolumar-se em soluços circulares. e as veias do meu corpo formam rios de lágrimas pilhados aos canais de lava de um tempo quase nosso. aqui definho à porta da plenitude, com o tecto gasto da alma a cair a pique para dentro das minhas algibeiras vazias.
preciso de uma terça-feira quente para renascer.
como estará o céu amanhã?

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