domingo, 13 de janeiro de 2008

Fantasia

gostava do modo como o teu corpo fremia ao meu encontro, como se todo o teu ser dançasse por te desejar. eras um exemplar puro do mais puro dos vícios, esse amor que roda a chave dos sonhos e abre fulgores etéreos no sangue.
na minha circulação, não havia margens. só um imenso caudal de sensações, atolando de gestos as minhas mãos.
e na tua coutada de mulheres fracturadas, onde por vezes me levavas de visita entre galanteios falsos e beijos mornos, lastimava as ferozes paixões do teu passado.
dizia: a tua nostalgia fere-me.
e tu dizias: as nossas horas cintilam como a aurora.
até que um dia espetaste um espinho imortal na minha coragem.
e eu desisti da realidade.
hoje, pela derradeira vez despojada de máscaras e como de costume alienada pelos meus próprios sonhos, protejo-me do sol no alto desta torre onde um dia cresceu uma árvore molhada, com raízes à porta, tronco delgado a suportar o corrimão da escada em caracol e um emaranhado de ramos, selvagens como o teu cabelo ao vento da tarde, a despontar folhas no céu riscado de cinza.
tenho ainda o teu definitivo adeus a estalar-me no peito e a saudade a martelar-me os nervos.
mas é só porque me canso de ser eu, sem ti o dia inteiro, que à noite escondo os olhos no teu retrato e me deito contigo numa seara de trigo.

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