há uma casa à chuva onde secretamente trabalho.
todos os dias.
uns correm bem, outros não.
é como outro trabalho qualquer, mas sem ordem programada: tanto mexo nos alicerces como monto armários e penduro prateleiras. mas as minhas mãos não param.
são ferramentas em si mesmas.
embora sentimentais.
em certas tardes preguiçosas, faço pausas mais demoradas
e bebo vinho no telhado, leio poemas no alpendre
e a vida turva-me o olhar.
mas nunca nunca saio do trabalho,
nem mesmo quando entro no teu abraço e descanso.
porque a casa à chuva está sempre em construção
e é frágil demais para resistir ao abandono.
e susceptível o suficiente para ruir sob um sopro de incerteza.
tem de tudo, esta casa.
até um lago, mas às vezes seca. e uma árvore, que definha e cresce ao ritmo da minha respiração. e uma longa escada em espiral... que uns dias subo para beijar o sol e outros desço para cumprimentar os vermes. os mesmos que talvez me comam a boca no túmulo.
ou não.
tem amor, sobre a porta, inscrito.
e obras tuas também,
sem que o saibas, a cobrir o chão e a serpentear pelas paredes.
mas visitas nenhumas.
ainda não.
não enquanto o teu sorriso chorar no meu peito.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
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