terça-feira, 18 de maio de 2010

Dos livros que amei

fujo
dos olhos perigosos e de abraços que tentam agarrar-me por fora para disfarçar delirantes vácuos,
tão antigos como o ciúme.
e de amores mais que tácteis,
daqueles que enfeitam os livros que em tempos amei.

preservo-me do medo através da ternura e parto-me em gritos
que só se acabam quando aplaco a muda fúria burocrática do quotidiano.
vou desfiando segredos e partilhando silêncios neste mundo de papel. e sento-me cansada na cadeira da desgraça.

mas toda eu sou de luz e puro sentimento
e até da desgraça consigo rir-me,
aprendi a fazê-lo há muito, com o beckett o cesariny o lorca,
até com o shakespeare e a freira mariana.
e sei que não voltam a tomar-me as lágrimas,
não voltam a tocar-me os inúteis rituais,
não voltam a tolher-me as pequenas mortes diárias.

hoje digo,
os meus dias são habitados por lírios de feltro e raios de sol.
e tu dizes,
todas as manhãs saio das nossas cabeças para inventar a paz.
tanto melhor,
assim facilmente me desvio das florestas sombrias
e protejo os pés dos tropeções.

e tudo o que em mim era impermanência
se dissolve em corrente na resoluta água de um beijo certo.

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