quarta-feira, 12 de maio de 2010

Mãe

a tua fragilidade dói-me nos braços,
tem o peso de mil soldados
e um tremor de natas,
todas as promessas falhadas
e sete décadas de desilusão.

(e vejo lenços ao vento
como bandeiras a acenar desgostos.

nos teus olhos trazes embrulhados
os sonhos de quem amaste,
e fachadas de igrejas vazias,
onde nem as tuas preces cabem
nem a minha fé te fala.

(e vejo rostos de medo
fechados ao mundo
e sombrios como o mar ao crepúsculo.

as tuas noites brancas à espera de ternura
vertem-se em cascatas
que te comem as pestanas
e embalam esse inverno
que tanto em ti se alonga.

mas na memória
(que sem pudor reescrevo, porque posso,
vejo muitas outras coisas:
o meu sorriso a povoar o teu sorriso
o meu abraço a inventar o teu corpo
a minha mão a ajustar-se à tua
em silêncio cúmplice
e autêntico conforto.

como se o amor te bastasse.

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei. Está lindíssimo.

Berta Cem Mil disse...

Obrigada. E quem és tu, Anónimo...?