sexta-feira, 6 de maio de 2011

Quando éramos água

nos teus falsos vinte anos
perguntas ao coração ferido
se pode ser feliz para o resto da vida.
sem saberes o tamanho do que te resta,
escondes-lhes a inquietação com que adivinhas a noite
e a firmeza com que fechas os olhos
quando me vês passar.

podias ter tido tudo
quando éramos água e eu tinha fome de humanidade
e tu tinhas um esboço de sorriso
para me dar depois do amor.

mas não quiseste,
para que pudesses
ser tudo,
em encantado despojamento.

a posse é erro, dizias.
e eu surda dizia, abraça-me para lá da pele.

depois o ardor da memória fulminou-nos:
o teu nome encolheu na palma da minha mão
e eu caí para dentro do teu esquecimento.

agora que somos de pedra no correr do tempo,
és o que tens
e a cor do cabelo.

eu descanso.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito agradável de ler, mas parece-me que seria mais feliz se vivesse o romance e descansasse a dois.
Escreve bem. Parabéns!

Berta Cem Mil disse...

parece-lhe muito bem, obrigada!