sábado, 30 de abril de 2011

Saber

quando o desassossego entrou na casa da família avariada
o alento trepou acima do medo
deslocou membros
e cresceu à desmesura

as arcas há décadas trancadas reconheceram as mãos
as fotografias os postais
os sorrisos revelaram-se aos olhos
e resvalaram em abraços de partida e desilusões

(nunca poderia ter acontecido
nas praias para onde costumava naufragar,

a permanência é que a tolhera)

agora o pai dizia, tenho sementes de viagens nos dedos
e a mãe dizia, sobra-me tempo para lembrar o que perdi
e a irmã dizia, o que pode ser dito tomará a minha boca

e havia telefones a tocar e janelas abertas e canções de protesto.

o rapaz calava.
sabia o saber tão frágil como a glória.

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