segunda-feira, 25 de abril de 2011

A face do amor que te tenho

da vaga lembrança ao reconhecimento absoluto
te vejo clara na dócil vaga de pássaros
que esta manhã me desperta.

em fino veludo há horas te enlaçaste
e eu aceitei o que o tempo quis,
tornei a ser-te espelho sem boca e deitei pó dourado dos olhos:
querosene oriental.

não sei porque te repetes na dureza.
se é por gostares da fibra que nos teus membros serpenteia
de cada vez que só dois passos nos separam
se te habituaste à arte da fuga
temes o desejo
ou preferes imaginar que me tens,
mas sei que o teu silêncio tem gritos de rematado tédio
que ao teu ouvido sopram juventude
enquanto te envelheces.

percorro os teus passos em rotina
sem sair da cama
inclino-me perante a tua peremptória existência.

e levanto-me porque umas noites te vejo.

a face do amor que te tenho é esse rosto que sei de cor.
atrás dele escrevo o que eu quiser.

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