segunda-feira, 18 de abril de 2011

No rebuliço de sonhar uma aldeia onde

chego atrasada à vida
no rebuliço de sonhar uma aldeia onde caibas comigo,
com rituais de colher alfaces,
pães a navegar ribeiros,
fogueiras de assar unhas burguesas
vermelho sangue, como o centro do teu sexo.

e paro à entrada deste coração de filigrana
tentando adivinhar para onde segue a humanidade.

que fazer da vaidade
de quem penteia a barba
entrançada de lodo?
que fazer da raiva
de quem é feito de pó
torrado na praia?
que fazer do remorso
de quem pinta de louro
as fitas dos cabelos?
que fazer do amor
de quem guarda ruínas
em armários chineses?

e as perguntas sucessivas afastam-me
desse único aglomerado de casas lacustres
onde podíamos ser felizes.

então chego-me a ti neste intervalo e digo,
toma a acetona e bebe.
tu abres uma narina de alívio
e deixas cair as caricas dos olhos
sob o sobrolho ajardinado minutos antes do verniz.

e de boca arreganhada
bebes-me até ao osso
enquanto ainda te lembras da última vez que voaste.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao navegar pela net encontrei as suas palavras. Sente-se os seus sonhos sonhados ou vividos, sofridos, a sua alma inquieta, insatisfeita,...
O seu sofrimento é o prazer de quem a lê, da arte da composição das suas palavras.
Escreve muito bem. Sugiro que publique. Aqui está sujeita a ser plagiada.
Desejos de sonhos mais alegres e menos inquietos.

Berta Cem Mil disse...

obrigada pelo seu comentário e pela sugestão, vou pensar no assunto... não sei se me apetece publicar, não só pela exposição que isso implica, mas também porque conheço bem o meio editorial e sei que a poesia não vende: publicar para depois vender meia dúzia de exemplares pode ser frustrante.
de qualquer modo, volte sempre!