quarta-feira, 1 de junho de 2011

Novas histórias de água trémula

enquanto celebras outro amor
e eu sei na carne que não chego a morrer contigo
tomo nova forma de corpo
e abraço vigilante as nuvens
felizes por serem
como eu e tu
vapor do ribeiro seco que nos foi cascata e maresia.

guardo o embrulho do último rebuçado que aqui comeste
e o desenho dos teus dentes à cintura.
tenho o álbum de fotografias, o disco das nossas vidas,
o estojo onde a tua vista dormia.
e viajo em chamas, implorando à noite que me cubra.

assim me encontrarás quando vieres:
no teu pequeno coração encolhida
e sem querer adornada a lume,
a inventar novas histórias de água trémula
contra a pena do teu desejo perdido.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sou, com muito agrado, seu leitor ocasional. No seu blog e noutras leituras, tento sempre sentir quem está por trás das palavras.
Nesta sua vida virtual revela-nos alguém sensível, inconstante, apaixonada e apaixonável, com amores intensos de curta duração.
Sugiro uma reflexão sobre que medos a impedem de viver os amores longamente na vida virtual.

Continuação de boas escritas e amores reais felizes.

Berta Cem Mil disse...

Caro anónimo, muito me apraz que me leia com agrado. é sempre divertido perceber, pelos comentários, a forma como me interpretam.
no seu caso, em parte acerta, em parte não. descrevo amores intensos de curta duração, sim, em episódios, ou instantes se quiser, cuja carga emocional tento "agarrar" para me exprimir liricamente.
ou seja, este é o meu "eu lírico", mas não me parece que a inconstância me defina como ser humano. antes pelo contrário.
e se há coisa de que não tenho medo é do amor real - e prefiro que dure e seja feliz, mas como sabe são precisos dois para dançar o tango e não é fácil manter sintonias num tempo como o nosso, de acelerada vertigem e mil e uma solicitações.
obrigada pela visita e o comentário, volte sempre!

Anónimo disse...

Todos temos medos, principalmente no campo dos afectos. Assumindo que não os tem, revela-os profundos.
As sintonias atingem-se vivendo os amores, numa aprendizagem a dois, com respeito e adaptações ao outro.

Continuação de boas escritas.