sábado, 8 de setembro de 2018

Sem nome

acordas nos meus braços
sem vontade de largar os sonhos, momentaneamente
esquecida da magia do real,
a única que importa.

lânguida, dolente,
voltas-te para o outro lado
e quase sorris,
desligada das sensações mundanas,
fracas por definição,
e enganadoras,
demasiadas vezes,
no passado.

depois estremeces
e recordas-te do amor
ontem aceso
nos nossos corpos,
táctil como mais nada,
em lençóis de gemidos envolvido,
e dizes o que aprendeste
recentemente,
que a vida te dá o que tu dás à vida.

atira-te a ela sem hesitação,
continuas,
não temas um sofrimento
que não podes saber se virá
(e se vier
come-o com a boca toda,
como se fosse doce de leite
a barrar a minha pele
numa vertigem de prazer.

o amor há-de,
naturalmente,
sem rodeios nem alarido,
mostrar-te o seu poder,
sólido e determinado
como os soldados devem ser,
como ele ė o tempo todo,
até nas trincheiras da noite,
e trazer-te, nua,
ao meu colo.

toma-me, digo eu,
admitindo pela primeira vez
a utilidade da lua,
das estrelas, dos oceanos,
meus confidentes de sempre e a desoras.

tu obedeces,
de constelações nos dedos,
a ir e a voltar
impreterivelmente,
como as marés.

eu, orgulhosa,
hasteio a bandeira
e ergo um país
de pedra e alegria
entre o meu coração
e o teu
(onde um dia moraremos juntas

vamos chamar-lhe abraço,
mas ambas sabemos que é mais do que isso

e não tem nome.

nomear é
quase sempre
apenas o princípio da viagem.

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