repetiu duas vezes aquele nome
que não era o meu
colado à palavra amor
e com tanta ternura que quis acreditar
que era a mim que chamava.
deixei-me ficar mais uns minutos
e quando começou a respirar pesado
puxei enfim o braço
largado sob a nuca dela
desde os últimos beijos,
peguei na roupa
e vesti-me em silêncio
junto à porta da rua.
não saí ilesa.
caminhei então pelas ruas desertas,
dobrei as esquinas
e tripliquei-me em tremores,
segurando a mão que mais tremia com a outra,
e mandei-a parar.
quase obedeceu.
os olhos também tremiam sobre as rugas fundas
e a boca, mais ainda,
descaindo como sempre contra a minha vontade.
mudei de passeio e continuei,
como se tivesse destino,
estugando o passo até encontrar aquele único banco de jardim
que não cheirava a vinho nem a merda nem a mentiras
nesta alvorada de santo antónio.
aí abri a página inicial
e chorei de júbilo ao descobrir que naquele instante
alguém me lia na coreia do sul.
não sei o seu nome, mas poderia repeti-lo
duas vezes
ou muitas
colado à palavra amor.
e jamais o trocaria por skincare,
embora esteja mesmo a precisar.