sempre apreciaste os meus lábios simiescos
mas não os meus maus hábitos.
também terias alguns,
tão insalubres como os meus,
porém mais silenciosos,
de que desviavas a atenção
para me vigiares.
e nem eu os via.
esse teu cuidado
feito de olhos ataviados de fome
fazia-me sorrir,
descuidada do que dizias.
amei-o sempre
mesmo sem o ver,
adejante sobre a minha boca,
até começar a feri-la
com os afiados lamentos
que, sem notares, soçobraram o amor.
agora vive emboscado na minha escrita,
um mau hábito pretérito e futuro
tão meu e primitivo
como o desassossego que me sitia as noites
e te apartou de mim.
sei que não tem fim o teu não regressar
e apenas caminhas para a luz.
que abraçar primatas,
ainda que ensinem os melhores beijos,
está hoje fora do teu alcance.
terias de aprender a fé antiga das árvores
e escutar a cegueira da natureza,
que continua a parir erros,
descuidada,
como eu sorridente,
uma filha ilegítima de deus.
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