segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Raízes

metáforas são subtilezas tecidas a negro,  criadas para vestir as palavras normais, cansadas de apenas nomear o mundo. 

carregadas de cores, fios, sentidos, 

já não sabem o que são

e, como gente que se esconde e disfarça, 

jamais podem ser encontradas

por quem as procurar.


é essa a grande doença da poesia:

o que lhe dá poder mágico

é também a sua inevitável perdição. 


o amor, como calculas, tem a mesma raiz.

e no subtexto do meu coração, 

profundo como árvore, 

interior como poema, 

não há como medir raízes.


e se as desenterrares, perguntas,

a viajar no verso do André, 

inspirado traje de trauma, medo, preconceito teimoso.


a planta corre o risco de morrer, respondo. 


pois que morra. tudo o que é vivo renascerá, 

com sorte mais humano, rebates tu. 


não suspeitas que é de mim que falo.

nem que morrer mais uma vez

pode extinguir-me para sempre.

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