segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Lobos

seguras no copo a uma distância segura da minha sede.

por um momento a tua mão não vacila, 

mantendo-me a salvo da ebriedade,

e eu deslizo para fora dos meus sonhos, 

satisfeita com a vida que me dás

neste pequeno exílio pacífico

em que me desconheço.


é quase uma felicidade palpável,

esta, em que brincamos aos casais 

dia após dia

e nos deitamos sem vontade

noite após noite

e comemos de olhos fixos na televisão 

com o volume no máximo

para não ouvirmos os lobos a arranhar a porta.


não dizemos a solidão

ainda que ela persista

nos nossos corações curados do vazio 

e não contamos aos amigos

do que morremos,

como tu ficaste arrumada e eu sóbria, 

as duas ao espelho, de corpos fechados no amor

gloriosas neste deixarmos de ser nós

para sermos maiores, as duas em silêncio e desfiguradas

diante do incandescente amanhã que se aproxima.


assim permaneceremos

até que a tua mão vacile diante da minha sede 

e eu recaia, de volta a mim mesma

e à velha floresta cercada de ruínas

onde durmo com os lobos 

e oiço estas vozes sussurrantes

que só me ditam poemas se não olhar para ti.


Sem comentários: