seguras no copo a uma distância segura da minha sede.
por um momento a tua mão não vacila,
mantendo-me a salvo da ebriedade,
e eu deslizo para fora dos meus sonhos,
satisfeita com a vida que me dás
neste pequeno exílio pacífico
em que me desconheço.
é quase uma felicidade palpável,
esta, em que brincamos aos casais
dia após dia
e nos deitamos sem vontade
noite após noite
e comemos de olhos fixos na televisão
com o volume no máximo
para não ouvirmos os lobos a arranhar a porta.
não dizemos a solidão
ainda que ela persista
nos nossos corações curados do vazio
e não contamos aos amigos
do que morremos,
como tu ficaste arrumada e eu sóbria,
as duas ao espelho, de corpos fechados no amor
gloriosas neste deixarmos de ser nós
para sermos maiores, as duas em silêncio e desfiguradas
diante do incandescente amanhã que se aproxima.
assim permaneceremos
até que a tua mão vacile diante da minha sede
e eu recaia, de volta a mim mesma
e à velha floresta cercada de ruínas
onde durmo com os lobos
e oiço estas vozes sussurrantes
que só me ditam poemas se não olhar para ti.
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