quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Aquela que amavas

eis-me, aquela que amavas, 

diariamente enlutada,

a girar incessante no redemoinho da saudade.

aquela que, quando à tua frente,

às cegas, encandeada pela tua luz,

preferiu voltar-se para dentro 

e isolar-se num cortejo de sombras

que para sempre a conduziu ao vazio. 


nele decidida se dissipa, 

ecoando os mesmos mil erros 

que sabiamente apontaste,

escondida num corpo que já ninguém deseja.

e escreve e reescreve o glossário da perda 

com palavras gastas, cada vez mais inúteis,

que lhe roem a língua com os seus próprios dentes.


eis-me, aquela que amavas,

no caminho resoluto de uma morte repetida.


a pior morte é esta, a que ainda respira

mas já só caminha para trás.

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