estico as meias grossas até aos joelhos,
escondo a cabeça na colcha, as mãos no peito,
e penso no calor que fazias quando à noite me abraçavas
e a minha fome crescia na medida exata do teu sossego.
mastigava o vazio e depois de muitas voltas à procura do sono
lá caía naquela sonora inconsciência que tanto desprezavas.
escondo a cabeça na colcha, as mãos no peito,
e penso no calor que fazias quando à noite me abraçavas
e a minha fome crescia na medida exata do teu sossego.
mastigava o vazio e depois de muitas voltas à procura do sono
lá caía naquela sonora inconsciência que tanto desprezavas.
acordava horas mais tarde, saciada.
e tu tinhas gelado e coçavas a ansiedade
como quem se despede do mundo.
derramavas lágrimas e queixas e eu engolia os gritos,
de regresso à ação com um buraco no estômago.
o que poderia dizer que te servisse,
se te já tinha tocado um par de dias
e jamais a minha voz ouviste com clareza?
ao fim de tantos despertares repetidos,
num inverno perene, a mesma fome,
o presente tomou a forma inexprimível do medo
e eu perdi de vez o sentido de falar do futuro.
e tu tinhas gelado e coçavas a ansiedade
como quem se despede do mundo.
derramavas lágrimas e queixas e eu engolia os gritos,
de regresso à ação com um buraco no estômago.
o que poderia dizer que te servisse,
se te já tinha tocado um par de dias
e jamais a minha voz ouviste com clareza?
ao fim de tantos despertares repetidos,
num inverno perene, a mesma fome,
o presente tomou a forma inexprimível do medo
e eu perdi de vez o sentido de falar do futuro.
desconfiavas das palavras e afinal
foi o silêncio que deu cabo de nós.