quarta-feira, 13 de junho de 2007

A canção

começo hoje a música subterrânea da crueldade, com cordas de arame electrificadas na corrente da escrita e ecos da frieza muda dos azulejos bolorentos onde o teu corpo se desfez. procuro remendar as feridas nos meus tecidos através deste som rente à pele, que me arranha como o desânimo.
o verão anuncia-se nas flor que murcham. já não há brilho em frente às janelas, nem sequer nos talheres cruzados sobre a minha salada de queijo e lua.
sufoco de calor e estendo o braço para dentro da imaginação, decidida a arrancar dela a perfeita canção assassina, um tufão de palavras em vidro ácido para cortar a tua boca.
e neste instante sou um exército em chamas de pés fincados no amarelo lento da erva e do caos, sou um desenho de sangue nos teus pulsos à procura do azul celeste na alquimia da violência, sou um comboio torrencial que engole as ossadas de um amor puro a sucumbir de vacuidade, como um milagre amputado.
sem saber o que fazer do fogo que me inunda as minhas vis entranhas, tento compor a derradeira melodia letal.
digo: o teu sexo é uma armadilha de vento.
e tu dizes: o ódio não mata.
se eu conseguisse terminar a canção, talvez tu congelasses no cubículo de prazer onde jaz o teu medo e dança a tua perdição.
e então poderia reconduzir-te ao outono e voltar a amar-te.

2 comentários:

Mei disse...

gosto da forma como transmutas as palavras com o fogo que te queima. mas olha. depois do verão chegará outro outono. um beijo, dorme bem*

Berta Cem Mil disse...

o outono é a minha estação.