terça-feira, 16 de outubro de 2007

A ilha

o perímetro dos meus passos é esta ilha de vidro que há séculos se parte. cada dia encurta a área para onde caminhar.
e a escassez de chão sedentariza-me.
do meu triângulo ao relento, vejo-te remar na direcção dos sulcos intransitáveis das ondas, esperando alcançar o coração do litoral.
às vezes voltas à noite, outras não.
na estação das chuvas assinalas o regresso com uma música líquida que te precede no cais. com o sol nunca vens.
mas um dia decides parar para um mergulho.
e misturas-te no mar de vácuo onde flutuam os estilhaços da nossa frágil ilha.
eu fico a ver-te submergir, a sós com a imagem dos teus ombros reflectidos na transparência onde nos amámos.
a memória é eterna como nenhuma ilha.

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