terça-feira, 2 de outubro de 2007

Passagem

lambo-te a dobra dos joelhos, o desenho das costelas acima da cintura, o côncavo das virilhas, o convexo do sexo. desfaço-me na tua nuca, refaço-me no teu peito, embrulho-me nos teus braços. e viajo para fora de mim dentro de ti.
tu entras nos meus ouvidos tornada sopro de ocarina, danças-me nas ancas ressoando como darbucas árabes, dás-me a beber orgasmos aromáticos de manteiga de caju.
e ensinas-me a arte de perder.
perder coisas, perder pessoas, perder o rumo, perder a cabeça, perder-me enfim. e aprendo a ganhar tempo com as mãos caminhantes nas linhas tropicais do teu corpo.
depois levo-te à estação, de coração perdido na antecipação da saudade.
quero repetir-te o desejo fremente que me consome, traduzir-te em palavras o amor que já sabes, fazer da minha voz um lenço de seda para enrolares ao pescoço numa toada de murmúrios circulares como olhos.
mas tu dizes: não fales.
e eu vejo-te partir em tortura de silêncio.

Sem comentários: