segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sala de espera

extermino as horas do universo com as palavras que invento nesta sala de espera contígua à razão, virada a este para o quarto onde nos demos e a oeste para a varanda do silêncio.
cada manhã pinta-me um cabelo de branco e cola-me mais um milímetro da face à face da morte, gelada como a camisa que me veste enquanto te espero.
abro os olhos no vazio e vejo-te a lavar as mãos à torneira e a cruzar as pernas no sofá e a bater ovos em taças de vidro e a repetir um mundo de gestos quotidianos que me falham como me falha a voz quando te abraço.
com o teu nome bordado no peito, emaranhada em exuberantes fragrâncias que tanto doem como consolam, sento-me na sala de espera a tecer o eterno manto de saudade que hei-de abotoar sobre a camisa quando o inverno chegar.
torço os dedos e entorto a cabeça, arranco a pele e desmancho o esqueleto.
e cavo trajectos impossíveis nos velhos corredores do tempo.
e paro o coração voluntariamente.
em vão.
entre as mesas de revistas excessivamente manuseadas e as cadeiras vermelhas, arrumadas junto às paredes, assobias-me melodias assombrosas e agigantas-te no éter, até cobrires o espaço todo e soares na música de todas as orquestras, as dos pássaros e as outras.
então verto os meus sonhos em verso para dentro da tua memorável boca e beijo-te de cor. e guardo a impaciência na juventude. e bebo à esperança pelo copo da noite. e encaro a verdade. e rasgo o pensamento a sorrir em frente ao espelho.
envaidece-me o teu amor. mas a espera faz-me chorar.

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